•  sexta-feira, 03 de maio de 2024
Campanhas buscam elevar cobertura vacinal no país

Campanhas buscam elevar cobertura vacinal no país

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é referência mundial, já que oferece, gratuitamente, todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo com essa oferta, a cobertura vacinal vem caindo no país. Estudo feito por diferentes faculdades de Medicina do estado de São Paulo e apresentado no 15º Congresso Paulista de Pediatria, em março, teve por objetivo calcular a taxa de recusa dos pais em vacinar os filhos e avaliar os fatores determinantes.

A autora principal do estudo, a médica Regina Célia Succi, membro do Departamento de Infectologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), informou que o estudo foi baseado em um questionário respondido pelos pais (on line ou pessoalmente) sobre vacinas e calendário vacinal, além dos temores e dúvidas. Responderam à pesquisa 579 pais, sendo 92,9% do sexo feminino.

Nos resultados iniciais, o estudo mostrou que 95% dos pais acreditam que seguir o esquema recomendado pelo médico é o melhor para os filhos, já 63,6% entendem que têm direito de questioná-lo. Embora 94,3% dos pais acreditem que a imunização protege contra doenças potencialmente graves, 14% deles não confiam na segurança das vacinas e 12,1% acham que os filhos recebem mais vacinas do que o necessário.

De acordo com estudos, 38,8% dos entrevistados têm muita preocupação com a seguranlça das vacinas e 26% responderam ter pouca. Oitenta e nove por cento dos pais dizem que sua principal fonte de informações é o médico, seguido pela internet (32,1%) e por parentes/amigos (23,7%). Quase 90% confiam muito no médico dos filhos. Destes, 12,7% afirmam que não conseguem discutir adequadamente vacinas com o profissional. Ainda segundo o estudo, a preocupação dos pais com a possibilidade de eventos adversos graves foi muita (45,3%) e um pouco (36,6%).

Para reverter esse quadro de insegurança, a autora do estudo disse que os pediatras devem aconselhar os pacientes. “Como professora universitária, sinto que temos que preparar o aluno de medicina e os médicos para sentirem segurança na hora de informar os pacientes sobre a necessidade e a segurança das vacinas.”

*Imunização ameaçada

Segundo o Ministério da Saúde, não há dados sobre a taxa de recusa vacinal no país. Mas de acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus), as oito vacinas obrigatórias até o primeiro ano de vida estão com cobertura abaixo do recomendado pela OMS, que é 90% a 95%. A coberrtura vacinal para crianças com até 12 meses de vida, em 2018, variava de 74% a 89%.

“Na nossa avaliação, isso não está relacionado a grupos antivacinas, o que temos visto é que essas vacinas da infância são um fenômeno que é o próprio sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI). À medida que se vacinou a população infantil erradicaram-se doenças ou ficaram controladas”, afirmou a coordenadora do PNI, Carla Domingues.

Ela lembra que na década de 1970, o país registrava 100 mil casos de sarampo e 10 mil de poliomielite por ano. “Essa geração de pais que foram vacinados na infância deixou de adoecer, não conviveu com essas doenças. E eles começaram a acreditar que não precisam mais vacinar seus filhos porque essas doenças não existem, criando uma falsa segurança”, acrescentou. “Se pararmos de vacinar, principalmente as crianças, doenças que ainda existem em outros países podem voltar a ocorrer no Brasil.”

Do início de 2018 até 8 de janeiro de 2019, o Brasil registrou 10.274 casos confirmados de sarampo. Foram 12 mortes pela doença: quatro em Roraima, seis no Amazonas e duas no Pará. Isso ocorreu depois de o Brasil ter recebido, em 2016, da OMS e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o certificado de país livre do sarampo, da rubéola e da rubéola congênita. Com os novos casos, o país perderá a certificação.

“Quando se tem um surto de um ano, significa que o país tem a endemicidade da doença novamente. A Opas está avaliando e agora teremos que demonstrar para órgão que interrompemos essa cadeia e ficaremos um período demonstrando que não temos caso, para o país ser recertificado”, explicou a coordenadora do PNI, que avalia que a falta de vacinação estimulou o surto.

*Incentivo à vacinação

Para aumentar os indicadores de imunização, o governo federal lançou, no último dia 11 de abril, o Movimento Vacina Brasil, com ações coordenadas pelo Ministério da Saúde.

A Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) também promove a campanha Abril Azul – Confiança nas Vacinas: Eu Cuido, Eu Confio, Eu Vacino, com o objetivo de levar informações sobre a importância da vacinação, aumentar a confiança nas vacinas, além de discutir e mostrar os riscos da recusa vacinal.

Segundo a pediatra Silvia Regina Marques, presidente do Departamento de Infectologia da SPSP, as vacinas representam a melhor intervenção em saúde em termos de custo-benefício: evitam 2 a 3 milhões de mortes a cada ano em todo o mundo e aumentam a expectativa de vida. “Não vacinar as crianças coloca-as em risco de desenvolver doenças potencialmente fatais (sarampo, tétano, difteria, meningite etc) e causadoras de sequelas para o resto da vida, como paralisia (poliomielite), surdez (meningite por H influenzae, caxumba), retardo no desenvolvimento, entre outras”, alertou a especialista.

A proposta da campanha é que os pediatras em seus locais de trabalho (hospital, ambulatório, consultório e universidades) intensifiquem as discussões sobre o calendário vacinal, situação vacinal da população e esclarecimentos sobre a recusa vacinal. “O médico pediatra deve se manter atualizado sobre todos os avanços nas vacinas e manter com a família dos seus pacientes estreito laço de credibilidade e confiança.”

(Agência Brasil)

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