•  quinta-feira, 28 de março de 2024

Museu MM Gerdau(BH) apresenta exposição inédita de obras que exploram a relação entre arte, ciência e tecnologia

Os seis trabalhos que integram a exposição foram selecionados entre 252 propostas inscritas, originárias de 26 países diferentes e apresentam trabalhos inéditos desenvolvidos por artistas que desenvolvem pesquisas envolvendo arte, ciência e tecnologia

Entre os dias 12 de dezembro de 2019 e 15 de março 2020, o MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal realiza a exposição “CoMciência”, apresentando os trabalhos dos artistas contemplados no primeiro “Edital CoMciência – Ocupação em Arte, Ciência e Tecnologia”. A exposição será aberta no dia em que é comemorado o aniversário da capital mineira e também da inauguração do Prédio Rosa, que abriga o museu, uma das construções mais antigas de Belo Horizonte.

A exposição contará com as obras AcrossTime, de Paul Rosero Contrera (Quito/Equador), Campos Elísios, de Henrique Roscoe (Belo Horizonte, Brasil), Código das Minúcias, de Jack Holmer (Curitiba, Brasil), Culturas Degenerativas, de Cesar & Lois (São Paulo, Brasil / San Marcos, USA), Futura Pele, de Thatiane Mendes (Belo Horizonte, Brasil) e Ilha Sonora, de Camila Proto (Porto Alegre, Brasil). A curadoria da exposição é assinada pelos artistas e gestores Alexandre Milagres e Tadeus Mucelli, que também integram a equipe da Bienal de Arte Digital.

A iniciativa, fomentada pelo MM Gerdau e realizada pelo programa CoMciência, voltado para divulgação científica do Museu, surgiu do desejo de se estabelecer uma agenda contínua de ocupação criativa e propositiva de seus espaços. Desta forma, o Edital CoMciência foi lançado em junho deste ano, realizando uma chamada a artistas e pesquisadores que atuam no desenvolvimento de trabalhos que passeiam entre arte, ciência e tecnologia, refletindo sobre as questões de nosso presente, e por que não, sobre quais questões o futuro nos reserva.

De acordo com Tadeus Mucelli, realizador da Bienal de Arte Digital e também um dos curadores do edital, iniciativas como esta são de extrema importância para a conceituação e entendimento de fenômenos contemporâneos que surgem através da união da arte, ciência e tecnologia. “Vivemos em uma sociedade altamente envolvida nos processos técnicos com forte influência em nossa cultura. Por meio dessas três esferas podemos tentar explicar o nosso mundo para desenvolvermos nossas habilidades perante os desafios que vão surgindo”, destaca.

SELEÇÃO

Nessa primeira edição, foram recebidas 252 inscrições, oriundas de 5 continentes (América do Sul, América do Norte, Europa, Ásia e África), de 26 países ao todo, sendo 65% de propostas multi-área e 75% de projetos inéditos.

Os números alcançados são um reflexo de como as produções integradas de arte, ciência e tecnologia se tornam cada vez mais presentes em Minas, no Brasil e no mundo. Das 252 propostas, os curadores chegaram a 35 projetos pré-selecionados em uma primeira fase da curadoria (short-list), que ao final de 37 dias de trabalho de seleção, resultou na escolha dos seis trabalhos que compõem esta exposição. Dentre eles, quatro são inéditos, cujas narrativas e conceitos permeiam temas instigantes como a computação vestível, aprendizado de máquinas, seres bio-híbridos, princípios da vida orgânica e digital e sobrevivência espacial.

“A curadoria foi um processo desafiador, pela quantidade e qualidade das propostas encaminhadas, pelo rigor e a documentação indispensáveis para uma análise cuidadosa e criteriosa, e nosso objetivo de construir por meio das obras selecionadas uma narrativa propositiva, levantando questões para uma sociedade pós-digital e biotecnológica. Esta exposição trará obras construídas na fronteira entre arte, ciência e tecnologia instigando o público em meio a temas atuais como a computação vestível, aprendizado de máquinas, seres bio-híbridos, princípios da vida orgânica e digital e sobrevivência espacial.”, destaca Alexandre Milagres, que divide a curadoria da exposição, e é um dos curadores da Bienal de Arte Digital, responsável pela curadoria da programação cultural e científica do MM Gerdau.

TRABALHOS

Dentre os projetos selecionados para a exposição “CoMciência” está “Códigos da Minúcias”, de Jack Holmer. Em busca de entender os primórdios da consciência biológica, o artista usa poesia e semiótica para apresentar pequenos robôs antropomórficos e autômatos que percebem o ambiente através dos seus sensores e respondem ao mundo concreto com movimentos e sons.

A obra “Código das Minúcias” apresenta uma base para uma consciência artificial, e cria estratégias para a programação de um sistema sensitivo, classificatório e interpretativo, para seres robóticos corpóreos e singulares. Assim, o projeto apresenta cinco esculturas eletronicamente autônomas dotadas de memória, sensores e rede neural que conseguem fazer uma leitura do ambiente, respondendo aos estímulos sensoriais conforme seu aprendizado diário. Dessa forma, será possível ir percebendo uma evolução da obra ao longo da exposição.

As esculturas simulam o crescimento de um feto humano em quatro estágios pré-natais e um pós-natal. A evolução do sistema pode ser vista externamente ao corpo na escultura central em um monitor que apresenta os dados internos de processamento da rede neural em gráficos amigáveis.

Outra obra de destaque é “Culturas Degenerativas” de Cesar Baio e Lucy HG Solomon. Aqui, os artistas estabelecem uma crítica à relação entre humanidade e natureza. Para isso, replicam a lógica dos chamados “microrganismos inteligentes” ao desenvolverem um “bhiobrid”, uma montagem híbrida que testa os limites entre o biológico e a inteligência artificial.

Assim, em uma instalação interativa, livros que documentam o impulso humano de controlar e remodelar a natureza são usados como substratos para fungos. O texto dos livros está destruído no sentido físico, e essa destruição é visível através do desaparecimento de texto legível na superfície das páginas. A partir da destruição, a Inteligência Artificial programada em um computador acoplado ao processo realizado no livro, analisa o crescimento dos microrganismos vivos e alimenta um algoritmo degenerativo ligado a autômatos celulares e linguagem de análise.

Esse agente biodigital pesquisa, automaticamente na Internet, textos que seguem padrões predatórios, construindo um banco de dados de artigos que descrevem os esforços da humanidade de controlar a natureza. Assim, ao passo que o livro físico é consumido pela cultura microbiológica, o banco de dados digital é corrompido pelo algoritmo degenerativo, combinando os dois processos simultaneamente.

A obra “Futura Pele”, de Thatiane Mendes, promete impactar os visitantes da exposição com uma experiência táctil inovadora. A proposta de Mendes é levantar a reflexão respeito da criação de um “sexto sentido” no corpo humano, que é resultado da relação intima de contato e interação do corpo humana, especialmente da pele, com dispositivos tecnológicos que captam dados, a todo momento, sobre a vivência do corpo. Assim, “Futura Pele” explora de possíveis futuras “peles-vestimentas”, mais adaptáveis aos modos de ser contemporâneo, aos fluxos de informações e ao corpo em movimento.

As tecnologias vestíveis de monitoramento, ao nos mostrarem dados como batimentos cardíacos, condução da pele, geolocalização, sons, movimentos do corpo, temperatura, entre outros, apresentam dados de intimidade, que têm sido usados inevitavelmente como autocontrole, vigilância e auto monitoramento, almejando os padrões de beleza e comportamento vigentes.

Com “Futura Pele”, são apresentadas 3 peças distintas construídas a partir de um biotecido resultante do cultivo de microrganismos vivos, que apresenta características da epiderme humana como rugas, coloração textura, marcas do tempo, etc. O resultado é um convite a uma experiência interativa questionadora e intrigante quanto a relação do ser humano com os eu próprio corpo, seus sentidos e a forma como interage e desvenda os espaços que o cercam.

A problematização da relação entre a humanidade e a natureza também é o tema central de “Campos Elísios”, de autoria de Henrique Roscoe. A intenção desta instalação é propor um outro comportamento possível, que passa por uma relação dialógica entre homem e natureza, onde seja possível uma escuta e não apenas a imposição de poder por um único ser – o humano – que se apropriou da Terra em um modo de vida altamente destrutivo em relação aos recursos naturais, em um crescendo exponencial especialmente após a revolução industrial.

Assim, a obra é composta por seres artificiais com autonomia e vida própria, que se comunicam através da emissão de sons particulares. Estes seres são autômatos que vivem de luz, seja ela solar ou artificial, e estão dispostos no espaço de forma irregular, preferencialmente misturados à natureza. Pensada para ser instalada em um jardim ou mata, onde estes seres se encontram camuflados em meio à folhagem das plantas que lá estão e inseridos harmonicamente também na sonoridade do espaço, “Campos Elísios” funciona a partir da interatividade com o próprio caminhar do visitante, que, alterando sua posição no espaço, muda a relação de escuta com os seres que estão vivendo nele. Para ouvir seu canto, o visitante deve andar pelo espaço – em silêncio – buscando ouvir a melodia de cada um e suas respectivas relações espaciais.

Desta forma, a obra propõe uma reflexão contemporânea e emergencial quanto a necessidade de escuta do ser humano para com as necessidades do meio ambiente, que urra emergencialmente com fenômenos naturais cada vez mais expressivos, como altas temperaturas, escassez de água ou chuvas torrenciais em épocas incomuns, além de tempestades e ventanias cada vez mais intensas.

Trabalhando a audição, a instalação “Ilha Sonora”, de Camila Proto, trata da possiblidade do som como criador de territórios para além daqueles percebidos pela sociedade. O projeto baseia- se na premissa do movimento das ondas sonoras como agenciador de estruturas matérias, onde a frequência e a vibração variam em sua função organizadora e ao mesmo tempo caótica, instaurando territórios mutáveis, em constante desconstrução e movimento.

Para criar esta dimensão do possível factual, a instalação conta com dois “setores”: um objeto interativo, chamado “Como fazer uma Ilha”, onde o público pode perceber as dimensões formativas do som e observar com seus próprios olhos a movimentação gerada pela mudança de frequência destes sons urbanos, além de um conjunto de arquivos, fotografias, dados, sons e textos dispostos em uma parede, onde a narrativa da pesquisa sobre o surgimento da ilha será́ traçada.

Fechando os projetos selecionados para a exposição “CoMciência”, está “Across Time”, trabalho do artista equatoriano Paulo Rosero, que propõe uma pesquisa sobre fósseis vivos e alimentos cósmicos dentro de uma perspectiva artística estruturada a partir da biotecnologia e da exploração da relação “espaço-tempo”. Desta forma Rosero recria “estromatólitos Antárticos” com base em pesquisas sobre cepas de cianobactérias, a partir das noções de exploração, mitologia antártica e reutilização de bio-resíduos derivados de um projeto de estufa.

Nossos estromatólitos brincam com a ideia de serem objetos incorporando passado e presente, independentemente de sua criação artificial. Esses objetos, assumidos como fósseis vivos, serão produzidos por um procedimento de impressão em 3D que replica o edifício em camadas realizado por estromatólitos orgânicos. Para esse objetivo, planejamos construir uma impressora bio-3d personalizada, alimentada por dois componentes principais: celulose feita com resíduos biológicos e cepas de cianobactérias.

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