•  sábado, 20 de abril de 2024

Psicopata (Sul) Americano

 

No já distante ano de 2012, lancei meu segundo livro (primeiro romance), que trazia a história de um personagem (O Ted, do título: Ted – Posso Ajudar?) que, desprovido de empatia, tentava apenas levar uma vida sossegada no seu cantinho e, quando se irritava demais com alguma pessoa atrapalhando seus planos de ficar em paz, colocava em prática um estratagema para eliminar a pessoa, não necessariamente matá-la, embora essa fosse sempre a primeira ideia, mas desde que a pessoa parasse de atrapalhar sua tranquilidade, já estava ótimo.

Sem se encaixar no perfil padrão de serial killer (já que cada vítima demandava um tipo de abordagem e estratégia diferente), a dose de psicopatia (ou sociopatia, há características dos dois e, como é uma ficção, várias liberdades criativas) presente no personagem levava a história para um humor ácido e quase crítico, sobre como, em alguns momentos, todos nós desejamos que alguma pessoa simplesmente desapareça de nossas vidas. Claro, a não ser que você seja mesmo um psicopata, você não apelaria para um assassinato, embora algumas pessoas tomem atitudes bastante cruéis, principalmente quando envolve relacionamentos ou a parte profissional.

E aí chegamos no fatídico ano de 2020, inesquecível para a História da Humanidade por conta da maior pandemia dos últimos 100 anos, que continua castigando o mundo todo e ceifando vidas em todos os lugares. No Brasil, por exemplo, já passamos dos 240 mil mortos para uma taxa de cerca de 10 milhões de infectados confirmados. Matemática simples: Se para 10 milhões há 240 mil mortos, significa que se chegarmos a 100 milhões de infectados (metade da população brasileira), teríamos 2,4 milhões de mortos pela doença. Mas, como diria alguém, “e daí?”.

Assustador, não é? Claro que os números não são exatos e a vacina já está começando a trazer certa esperança, mas, enquanto não atingirmos 70% da população imunizada, ela praticamente não tem efetividade. E, por outro lado, estamos em um dos piores momentos da pandemia no país, desde que ela começou.

E isso deveria ser motivo para estarmos alertas, cuidadosos, cobrando os governos por ações como agilidade na vacinação e amparo social para quem não pode trabalhar. Mas ao invés disso, o que tem acontecido? Festas.

Sim, tivemos a suspensão do Carnaval, mas isso não impediu que incontáveis pessoas promovessem festas. Desde bairros nobres até favelas no Rio de Janeiro (e em São Paulo) registraram aglomerações como se não houvesse um vírus mortal circulando, com as pessoas se divertindo sem máscara – uma medida simples e eficaz para evitar a proliferação da doença. Isso, aliás, é causa direta de comércios quebrando, mais do que os fechamentos obrigatórios, já que de nada adianta fechar um bar e a galera se reunir para se contaminar em outro lugar, porque o infeliz não tem empatia e não se importa que comércios fechem ou pessoas morram.

Enquanto isso, há incontáveis denúncias de pessoas ricas/importantes furando fila para se vacinar em detrimento de pessoas mais necessitadas ou vulneráveis. No Rio, se investiga a falsa aplicação de vacinas. Governos de vários estados e cidades são investigados por desvios de verbas ou superfaturamento em recursos destinados ao combate à pandemia. E o governo federal, que investiu muito abaixo do aprovado, além de promover medicamentos sem eficácia comprovada, já totalmente descartados em todo o resto do mundo – menos aqui.

Então, voltando ao início. Quando escrevi o Ted, lá em 2012, a ideia era “brincar” com a possibilidade de que, por mais que possamos ter pensamentos ruins em algum momento, o limite de praticar o mal fazia parte da maioria de nós, ou nos tornaríamos um “Ted”, psicopata que transita livremente entre as pessoas com a máscara de “cidadão de bem”.

Parece, no entanto, que a realidade é bem mais cruel que a ficção e tem muito psicopata por aqui que não se importa de festejar sobre o túmulo de 240 mil pessoas, sabendo que está colaborando – e muito – para que esse número suba.

A morte se tornou mesmo banal por aqui.

Por Luciano Rodrigues

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