•  terça-feira, 23 de abril de 2024

Herói Mascarado

A não ser que ele seja o Super-Homem (que se disfarça usando óculos), heróis usam máscaras. Desde as mais simples, como as do Zorro, Lanterna Verde ou Robin, que apenas cobrem os olhos (e disfarçam muito pouco); passando pelas com eficácia duvidosa, como a do Batman (um tiro na boca terminaria a carreira heroica do morcegão) e do Wolverine (que pelo menos tem fator de cura); e chegando até as mais eficazes, como a do Homem-Aranha, que cobre todo o rosto, ou do Homem-de-Ferro que, bem, é uma armadura cheia de recursos. E ainda tem o Máskara, cuja máscara literalmente concede superpoderes.

Mas, desde criança, sempre soube que usar máscara era coisa de super-herói. E não porque os personagens de quadrinhos se escondiam atrás das suas, mas porque, a princípio, a ideia de preservar a própria identidade era uma maneira de garantir a segurança das pessoas próximas. Um ato nobre, no caso. Na vida real, algumas categorias também dependem do uso de máscaras, como os médicos, protegendo a própria saúde e a do outro; ou mesmo bombeiros em ação, que precisam se precaver contra a fumaça ou, do contrário, não apenas não teriam condição de salvar alguém, como também seriam vítimas a perecer.

Com a pandemia de Covid-19, aprendemos o que há muito tempo países – como alguns asiáticos – já sabem, que o uso de máscaras é algo que, em situações de risco, é bom não apenas para si mesmo, como também para proteger aos outros. “Aprendemos”, ou pelo menos deveríamos ter aprendido. Porque, como disse alguém no Twitter, o brasileiro adotou o uso de máscara como um amuleto, basta estar com ele que a sorte vai te salvar. Só que não.

Usar máscara, claro, não é da coisa mais agradável ou confortável. Nossas orelhas que o digam. Eu fiz questão de comprar um jogo com três máscaras com tecido especial (que promete eliminar vírus e bactérias em até 5 minutos) e que se prende atrás da cabeça e não nas orelhas. E sempre que preciso trafegar fora de casa, seja no trabalho ou no mercado, procuro trajar o acessório. Não apenas por ser obrigatório, mas também porque sei da importância de me proteger e também respeitar as pessoas ao meu redor. Admito que até faço treinos sem a máscara em alguns momentos (atividades ao ar livre são bem mais seguras, principalmente as individuais), mas entendo que talvez não devesse.

Uma expressão que sempre ouvi é sobre “fulano ser mascarado”, o que indicaria um sujeito arrogante ou metido. Acredito que, atualmente, dadas as circunstâncias, o sentido deveria cair por terra e significar exatamente o oposto. Mascarada é a pessoa que tem consciência. É a pessoa que respeita o próximo e, com um mínimo de empatia, sabe que não custa usar máscara. É aquele que não acha que é só uma gripezinha uma doença que já matou 260 mil pessoas por aqui. Que coloca gente em UTI até o colapso de hospitais e, no momento, ameaça continuar devastando o Brasil sem a menor piedade.

Seguimos batendo recordes de mortes diárias, de média móvel, de contaminações. Dia após dia, fica mais difícil sentir-se segurou ou mesmo ter lampejos de esperança na melhora a curto prazo, a não ser agradecer todos os dias por não ser uma das 260 mil vítimas ou mesmo por ter os familiares e amigos saudáveis. Pelo menos por enquanto.

Seja como for, se estivéssemos em uma história em quadrinhos agora, sem dúvida que identificaríamos muito fácil os vilões. Eles estariam todos sem máscara.

Por Luciano Rodrigues

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