•  sexta-feira, 29 de março de 2024

Saudade é uma viagem (no tempo)

Sempre gostei de histórias de viagens no tempo. Os paradoxos criados sempre me fascinaram, como em Exterminador do Futuro 2, que explica que a Skynet (vilã do filme, e provavelmente criada com a junção de duas operadoras de TV por assinatura) e os exterminadores foram criados usando engenharia reversa no primeiro exterminador enviado para o passado (no filme 1).

Infelizmente, viajar no tempo, pelo menos na forma como a ficção nos apresenta, é impossível. Não importa o quanto nossa tecnologia avance, em tese, a única possibilidade seria “viajar para o futuro”, por exemplo, ainda que seria algo como estar no espaço por 10 anos, voltar e na Terra ter se passado 15 anos. Ainda assim, não é bem viajar para o futuro e, mesmo que fosse, quem quer ir para o futuro? E o medo de chegar lá e descobrir que está careca? Pobre? Que seu time continua sem ganhar título desde 2012 (essa é para você, São Paulo FC)? Que seu filho cresceu e fica idolatrando político e chamando de mito? Não, a grande graça da viagem no tempo seria viajar para o passado, revisitar os momentos de glória, ainda que a realidade não seria exatamente como o conforto e a ilusão da nostalgia nos recorda.

Claro, uma regra bem clara em qualquer história de viagem no tempo, é que não se deve alterar o passado sob o risco de criar um efeito borboleta, como nos alertou Ashton Kutcher no filme ou, antes disso, Marty McFly em De Volta para o Futuro. Ou talvez seja mesmo impossível fazer isso, como Os Vingadores nos mostraram em Ultimato.

Então, unindo o impossível ao não permitido, poderíamos imaginar uma viagem ao passado que fosse baseada em uma experiência de realidade virtual não interativa, ou seja, como se você estivesse assistindo um filme em 4D sem poder alterar os acontecimentos. Parece uma boa ideia, possível para os gigantes da tecnologia em algum momento no futuro (e talvez eu viaje até lá para descobrir se falta muito para chegar).

Enquanto isso não acontece, vale imaginar como seria essa experiência. Reviver os melhores momentos que nos lembramos. Sentir novamente como é se apaixonar pela primeira vez, a sensação de uma grande e boa surpresa ou simplesmente reencontrar pessoas que não estão mais por aqui, que seria o grande destaque da atração, ainda que não pudéssemos mudar nada, rever aquele ente querido seria uma benção, acho eu.

No entanto, isso só aplacaria a saudade não muito diferente do que nossas lembranças fazem hoje, já que não seria possível alterar qualquer coisa, desfazer os erros e dizer coisas que não foram ditas.

Para isso, no entanto, existe o futuro e, antes dele, o presente. É aqui, no agora, que temos a oportunidade de dizer o quanto é importante alguém que amamos. De dar um abraço forte, apertado, demorado e em silêncio, apenas para sentir o aconchego de onde, segundo Jota Quest, é o melhor lugar do mundo. De pedir perdão e tentar superar mágoas. De aproveitar de verdade a companhia de quem nos faz tão bem, deixando de lado mesquinharias e aprendendo também a perdoar.

O agora é quando podemos fazer tudo isso e, mesmo quando acreditamos que há futuro, ele pode nunca chegar. A vida é um sopro e ninguém sabe quando será a partida, nem de outros ou sua própria. E decidir amar as pessoas como se não houvesse amanhã talvez seja a melhor opção para que, quando o futuro chegar, a saudade seja repleta de boas lembranças e não carregada de arrependimentos e verdades nunca ditas.

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