•  sábado, 20 de abril de 2024

O Caminho para El Dorado

Quando era criança (não faz tanto tempo assim), imaginava que no futuro eu teria mais dinheiro do que poderia contar e poderia gastá-lo sem me preocupar. Claro, a realidade depois se mostrou muito mais, digamos, real, e, ao invés de um milionário ostensivo, sou muito mais parecido com o pai do Chris Rock, na série em que ele é odiado por todos. Sim, embora não tenha dois empregos para minha esposa se gabar disso, sou do tipo que conta os centavos antes de gastá-los para saber se o custo realmente vale a pena.

Esse hábito, vale dizer, foi desenvolvido por anos e é quase como uma herança de família. Meus pais fazem isso e, antes deles, os meus avós. E minhas sobrinhas, desde a infância, ao pedir um presente, se preocupavam se ele não era muito caro.

Isso, claro, não significa que eu seja um avarento de natais passados e muito menos tenha uma caixa forte onde posso nadar nas minhas moedas, pelo contrário, as limitações financeiras (maiores ou menores) enfrentadas ao longo da vida me ensinaram que dá para ser feliz gastando menos do que se ganha – a não ser quando você faz parte do quase 1/4 de brasileiros que estão  abaixo da linha da pobreza, ou seja, que tem renda domiciliar por pessoa inferior a R$ 406 por mês, de acordo com os critérios adotados pelo Banco Mundial.

Sem entrar na questão das desigualdades e da extrema pobreza que ainda assola muito nossa pátria amada (entre centenas de outros países mundo afora), fazer parte do 1% que possui muito dinheiro é um sonho que, pelo menos em algum momento, já tentou (quase) todo mundo.

Talvez seja até saudável fantasiar com fortunas, mas quando esses sonhos são movidos pela ganância (que todos nós temos), a coisa pode ficar perigosa e, mais ainda, ser um prato cheio para vigaristas que, se antigamente se amparavam em golpes como o do bilhete premiado, foram ficando cada vez mais astutos e, graças à tecnologia, hoje dispõe de incontáveis recursos para ludibriar até o mais sensato dos homens (ou das mulheres).

Assim, surgem a cada dia novas formas de enriquecer rapidamente e sem o menor esforço. Um deles, conhecido há muito tempo e que voltou a fazer sucesso apresentado em nova roupagem, se trata das pirâmides, que nada têm a ver com as gigantescas estruturas de pedra, mas que, bem maquiadas e promovidas, fariam brilhar até mesmo os olhos de Tutankamon. As criptomoedas, lideradas pelo sucesso do Bitcoin, também são outra fonte de riqueza milagrosa, embora, em muitos casos, elas sejam usadas apenas para disfarçar uma pirâmide financeira.

Mas por quê, em nome do Tio Patinhas, tantas pessoas continuam caindo no conto do vigário e comprando feijões mágicos, crentes de que encontraram a galinha dos ovos de ouro, mesmo com todos os avisos, alertas, indícios de que “algo errado não está certo”? Sem contar as matérias sobre o assunto, que, semana sim, semana também, mostram casos e mais casos de pessoas que “investiram” fortunas e acumularam apenas dívidas.

Minha teoria, formulada com base em observações preguiçosas e nenhuma pesquisa, é que as propostas mexem com duas coisas inerentes à maioria dos seres humanos: a ganância, no caso, a possibilidade de se acumular muito dinheiro em pouco tempo; e sem esforço para isso (porque vamos combinar, por natureza, somos preguiçosos). E também um sentimento de que se sabe algo que mais ninguém sabe. É como se El Dorado – cidade mítica coberta de ouro e pedras preciosas em algum lugar na América Latina – fosse real e você tivesse encontrado o mapa para chegar lá.

No entanto, como a História continua mostrando de forma impiedosa desde que o mundo é mundo, a busca pela cidade do ouro costuma terminar sempre da mesma maneira. Sem riquezas, sem saúde e, com um tempo valioso desperdiçado. E esse, nenhum dinheiro no mundo pode comprar.

 

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